Indústria de personal care enfrenta dificuldade para atrair e reter profissionais qualificados
Escassez de mão de obra técnica e diferenças geracionais pressionam operações e exigem estratégias de capacitação e employer branding

A escassez de profissionais qualificados é um desafio crescente para a indústria de personal care no Brasil. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 69% das indústrias brasileiras enfrentam dificuldades para contratar profissionais qualificados, especialmente em áreas como produção, técnicos e operadores. Esse cenário reflete uma tendência global, onde 75% das empresas apontam escassez de talentos, conforme a pesquisa Total Workforce Index da ManpowerGroup.
No setor de personal care, essa falta de mão de obra qualificada impacta diretamente a eficiência operacional e a competitividade das empresas. Paradas não planejadas, desperdício de insumos e atrasos em lançamentos de produtos refletem em perda de market share e margens.
Para Edivam Silva, engenheiro mecânico e especialista em processos produtivos, o impacto da falta de profissionais qualificados vai além do chão de fábrica. “O impacto no negócio é ainda maior e neste mercado de personal care não se pode dar ao luxo de perder em nenhum tema”.
FORMAÇÃO TÉCNICA DEFASADA FRENTE ÀS EXIGÊNCIAS DO SETOR
A formação técnica disponível no mercado apresenta lacunas importantes. Profissionais frequentemente chegam com conhecimento teórico, mas carecem de experiência prática de chão de fábrica, visão integrada de processos e habilidades comportamentais, como comunicação e adaptabilidade tecnológica. Silva destaca que faltam três pontos principais: conhecimento aplicado, visão integrada de processos e soft skills.
Diante disso, geralmente, as empresas adotam duas estratégias pagar mais para contratar profissionais experientes ou investir em capacitação interna. O engenheiro explica que “se uma empresa está em crescimento rápido, não tem tempo de formar todos os profissionais que precisa, então busca talentos prontos no mercado — e isso tem um preço. Agora, se houver horizonte de cinco anos, cabe um bom planejamento de capacitação interna para suportar esse crescimento gradativo”.
GERAÇÃO Z: NOVAS DEMANDAS E DESAFIOS CULTURAIS
A entrada da geração Z no ambiente industrial traz novas dinâmicas. Os jovens oferecem energia, criatividade e domínio digital, mas enfrentam desafios ao lidar com a disciplina e padronização exigidas no chão de fábrica. Ferramentas como Lean, 6 Sigma e Kaizen ajudam a criar processos eficientes, mas demandam adaptação.
Além disso, muitos jovens demonstram resistência inicial a trabalhar com produtos como fraldas e absorventes, associando-os a tabus. No entanto, quando entendem que esses produtos têm impacto direto na saúde, dignidade e bem-estar das pessoas, muitos passam a ver propósito no trabalho. “O segredo está em comunicar o valor humano do que se faz”, enfatiza o engenheiro.
CONSULTORIA APONTA LACUNAS TÉCNICAS E COMPORTAMENTAIS
João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive e sócio fundador do Talenses Group, observa que a indústria enfrenta desafios específicos de recrutamento devido à escassez de profissionais em P&D, inovação, qualidade e supply chain. “A formação acadêmica ainda não acompanha a complexidade técnica e regulatória do setor, o que gera competição com indústrias como alimentos, bebidas e farma”, explica.
A geração Z também altera a dinâmica de atração e retenção. Souza observa que esses jovens valorizam propósito, diversidade e protagonismo, exigindo experiências de carreira mais rápidas e coerentes com seus valores. Nesse contexto, reposicionar a imagem do setor, mostrando ciência, saúde, sustentabilidade e impacto social, é fundamental para conquistar novos talentos.
ESTRATÉGIAS PARA SUPERAR O APAGÃO DE TALENTOS
Especialistas recomendam programas internos de capacitação técnica, parcerias com escolas técnicas e universidades, além de investimentos em employer branding para fortalecer a imagem do setor.
O papel das lideranças é central nesse processo. Silva ressalta que líderes devem atuar como mentores e facilitadores, inspirando e orientando os jovens talentos. “Quem consegue navegar bem na gestão de pessoas, retém seus principais talentos e desenvolve joias raras a médio prazo, que serão os futuros gestores e diretores deste negócio tão rentável e maravilhoso que é Personal Care”, reforça o engenheiro.
Além disso, programas de rotação internacional, mentorias cruzadas e políticas consistentes de diversidade têm se mostrado eficazes para engajar e reter profissionais. Atenção ao bem-estar e comunicação horizontal equilibram disciplina industrial e ambiente humano, criando um ambiente de trabalho mais atrativo e produtivo.