Produção de fraldas: eficiência que nasce do detalhe
Por Edivam Silva, engenheiro, plant manager e especialista em processos produtivos

A fabricação de fraldas descartáveis pode parecer um processo simples à primeira vista. Porém, por trás de cada pacote nas prateleiras, há um sistema complexo e altamente sincronizado, no qual planejamento, tecnologia, pessoas e sustentabilidade caminham lado a lado. Otimizar essa jornada produtiva não é apenas uma questão de reduzir custos, é também sobre agregar valor ao produto final e ao planeta.
O PONTO DE PARTIDA: PLANEJAR PARA PRODUZIR MELHOR
Uma produção eficiente começa com um bom planejamento. Empresas do setor têm investido cada vez mais em sistemas integrados que conseguem enxergar, em tempo real, o que está acontecendo no chão de fábrica.
Ferramentas como ERP e MES (Manufacturing Execution System) garantem visibilidade em tempo real do estoque, ordens de produção e capacidade fabril. O resultado? Redução da ociosidade de máquinas, menos desperdício e faltas de matéria-prima, além de permitir respostas rápidas a variações de demanda.
Dica extra: o uso de algoritmos de planejamento avançado (APS) melhora o balanceamento das linhas e a ocupação dos equipamentos, reduzindo custos indiretos.
DADOS QUE AJUDAM A DECIDIR ANTES DO ERRO
A automação deixou de ser apenas um diferencial. Ela evoluiu de comandos simples para sistemas totalmente integrados e inteligentes, e agora é parte fundamental da estratégia. Hoje, grandes players do setor utilizam PI Vision (da AVEVA/OSIsoft) como plataforma de visualização e análise de dados em tempo real, aplicada ao controle de produção, qualidade, energia e manutenção.
Com dashboards dinâmicos, operadores, supervisores e engenheiros podem acompanhar, em tempo real, tudo que acontece na fábrica: de falhas emergentes a picos de consumo de energia. Essa visibilidade não só evita paradas inesperadas, como também antecipa soluções, contribuindo para uma operação mais confiável.
Benefícios práticos:
- Aumento da confiabilidade de equipamentos;
- Redução de tempo de parada;
- Decisões baseadas em dados, e não apenas em histórico.
MÁQUINAS QUE MOLDAM O RITMO DA PRODUÇÃO
Quem já visitou uma fábrica de fraldas sabe: as linhas de conversão são o coração do processo. E há diferentes perfis de máquinas, que variam conforme o tipo de fralda (infantil, adulta, geriátrica) e o nível de automação desejado, além das tecnologias de aplicação de elásticos, fechos, barreiras e materiais absorventes.
As mais simples produzem cerca de 200 fraldas por minuto (fpm). Já as mais modernas superam os 1.000 fpm, com maior precisão e menos desperdício. E no final da linha, as embaladoras automáticas garantem que cada produto saia pronto para as gôndolas; elas também acompanham essa velocidade, realizando empacotamento, selagem e rotulagem em tempo real.
Entretanto, toda eficiência tem seu preço: linhas completas de alta tecnologia e performance podem custar entre US$ 3 a US$ 8 milhões, já as linhas intermediárias podem partir de US$ 1,5 milhão.
QUALIDADE QUE SE GARANTE EM CADA ETAPA
Inspecionar a qualidade deixou de ser uma etapa final. Hoje, ela acontece durante toda a produção, com sensores de presença, câmeras de alta resolução e medidores de peso ou espessura conectados a sistemas de análise em tempo real.
Essa abordagem garante que qualquer desvio seja identificado imediatamente, evitando retrabalho e perdas. Além disso, a rastreabilidade completa alimenta sistemas como o PI System, permitindo traçar históricos por lote, turno, operador e condição da máquina. Isso traz vantagens competitivas para a empresa, ao facilitar auditorias, exportações e certificações internacionais.
SUSTENTABILIDADE ALÉM DO DISCURSO
A busca por eficiência não se limita ao produto final. A otimização também envolve o consumo de recursos como energia, ar comprimido e matérias-primas. Tecnologias como motores com inversores de frequência, recirculação de calor e sistemas de vácuo otimizados já são realidade em plantas modernas.
Além disso, há um movimento crescente por fraldas eco-friendly, com uso de celulose certificada, menor plástico e embalagens recicláveis — um diferencial comercial e ambiental.
PESSOAS QUE FAZEM A DIFERENÇA
Mesmo com tanta automação, o fator humano segue como peça-chave para sustentar a excelência. Empresas que apostam na capacitação técnica, na análise sistemática de falhas e na cultura da melhoria contínua colhem resultados sólidos.
Incentivar ideias vindas do chão de fábrica, promover workshops e aplicar metodologias como o PDCA ou o KAIZEN são práticas que geram engajamento, inovação e resultados reais.
INDÚSTRIA 4.0: O PRESENTE DA MANUFATURA
A integração entre chão de fábrica e nível gerencial é o futuro – e o presente – da manufatura de fraldas. As fábricas mais modernas já vivem a chamada Indústria 4.0. Isso significa sensores inteligentes, análises preditivas e sistemas capazes de aprender com os dados.
Soluções baseadas em IoT (Internet das Coisas), edge computing e analytics permitem prever falhas, otimizar setups e entender, com profundidade, o comportamento dos processos.
Não se trata mais de corrigir problemas, mas de evitá-los antes mesmo que apareçam.
A conexão entre todos os níveis da produção, do operador ao gestor, permite decisões rápidas, fundamentadas em indicadores como OEE, rendimento de materiais e custo por milheiro produzido.
NO FIM, TRATA-SE DE INTELIGÊNCIA PRODUTIVA
Mais do que produzir em alta velocidade, o desafio da indústria de fraldas está em produzir com inteligência. Isso significa integrar tecnologia, processos e pessoas com um único objetivo: gerar valor. Para o cliente, que recebe um produto de qualidade. Para o mercado, que exige eficiência. E para o planeta, que pede responsabilidade.