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Startup dos EUA aposta em fungos para acelerar a decomposição de fraldas descartáveis

Combinando resíduos orgânicos com microrganismos, solução da Hiro Technologies busca reduzir o impacto ambiental das fraldas em aterros sanitários

A startup Hiro Technologies, com sede em Austin, no Texas, Estados Unidos, está apostando em uma solução inovadora para reduzir o impacto ambiental das fraldas descartáveis: o uso de fungos para acelerar a degradação de plásticos. A empresa lançou recentemente as fraldas MycoDigestible, que vêm acompanhadas de um sachê com fungos especialmente selecionados para esse processo.

A proposta é simples: após o uso, o consumidor deve adicionar o sachê à fralda suja antes de descartá-la. A umidade proveniente das fezes, da urina e do ambiente ativa os fungos, que iniciam a decomposição do material plástico. Segundo a empresa, o processo começa a surtir efeito após uma ou duas semanas.

O problema que a Hiro Technologies busca enfrentar é expressivo. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), cerca de 4 milhões de toneladas de fraldas descartáveis foram enviadas para aterros sanitários no país somente em 2018, sem que houvesse um sistema significativo de reciclagem ou compostagem. O tempo de decomposição natural desse tipo de produto pode levar centenas de anos.

A inspiração para a solução veio de pesquisas anteriores com fungos. Em 2011, cientistas da Universidade de Yale descobriram, no Equador, uma espécie de fungo capaz de se alimentar de poliuretano, um tipo comum de plástico. O fungo identificado, Pestalotiopsis microspora, mostrou-se eficiente mesmo em ambientes com pouco oxigênio, como aterros sanitários.

Segundo o finlandês Tero Isokauppila, cofundador da Hiro Technologies e conhecido por ter fundado a empresa de cogumelos medicinais Four Sigmatic, já existem mais de 100 espécies de fungos conhecidas pela capacidade de degradar plásticos.

“Muitas e muitas luas atrás, os fungos evoluíram para decompor árvores, em especial um componente das árvores de difícil decomposição chamado lignina. (…) Sua cadeia principal de carbono é muito semelhante à cadeia principal de carbono dos plásticos porque, basicamente, os dois são feitos da mesma coisa”, explicou Isokauppila.

No laboratório da empresa, três recipientes lacrados demonstram os estágios de decomposição de uma fralda tratada com os fungos ao longo do tempo. Após nove meses, o material se transforma em um solo de aparência escura, que o executivo descreve como “plástico digerido e essencialmente terra”.

A Hiro Technologies destaca que o produto ainda está em fase de testes para avaliar o comportamento da decomposição em diferentes condições climáticas e ambientes reais. A expectativa da empresa é obter os dados necessários para fazer uma comunicação direcionada ao consumidor até o próximo ano.

Além das fraldas infantis, a companhia também planeja expandir o uso da tecnologia para fraldas para adultos, produtos de higiene íntima feminina e outros itens de higiene descartável.

No momento, as fraldas MycoDigestible estão sendo comercializadas online, em pacotes semanais com preço de US$ 35. Miki Agrawal, cofundadora da Hiro e fundadora da marca de calcinhas menstruais reutilizáveis Thinx, afirmou que o lançamento tem gerado interesse entre consumidores e investidores, mas preferiu não revelar números.

“Existe um efeito nocivo duradouro sobre o qual realmente não pensamos e que não levamos em conta”, disse Agrawal. “Porque quando você joga algo fora, ninguém se pergunta: ‘onde é o fora?’”.

Fonte
ReutersValor Econômico
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